
Pois bem, no meio do Curso de Ciência Política fiquei maravilhado com a "teoria da modernização". Em linhas gerais e grosseiras, ela sustenta que a democracia é uma decorrência de certo nível econômico. Acima de tal renda média, o país vai ser democrático, abaixo, é provável que seja uma ditadura, abaixo de X, não tem democracia que se sustente. Demais, não? Demais pelo simples fato que nós do Direito sempre achamos que o mundo se muda com regras. Boa lei, bom mundo. É um pensamento burro e meio infantil, mas ninguém pensa no "problema da democracia", aliás, ninguém pensa em nada. Jurista é tudo otário.
Ademais, era uma fase minha meio de transição. Eu estava saindo da posição do empregado demitido por fazer greve para a de assessor de quem tem o poder de demitir e a perspectiva mudou. E também, tem uma coisa que me fascina que nunca alguém me explicou, então fui tateando por aí, que é o sucesso da estabilidade brasileira e a sua relação com o plano real, dos neoliberais do mal que hoje, nós, esquerda batemos palma. É só olhar, por exemplo, a Argentina cujas crises políticas são decorrentes das crises econômicas.
Bem, em resumo, a economia move o mundo, e se seu já passei pelo direito, pela política, tentando entender o mundo, por que não dar um pulinho no mundo dos números?
Mas sou movido a paixão, e aí precisava de algo que me empurrase ou puxasse, atraísse, enfim. E estava eu na casa dos meus pais vendo nada na TV, eis que surge, De repente, Gina. O filme mais querido que já vi. Querido, simpático, doce, sei lá, me faltam os adjetivos.
É um filme que flerta com você e dentro de cinco minutos cê tá apaixonado. Contra todas as expectativas: filme alemão, feito pra tv, com o impronunciável título de "Frühstück mit einer unbekannten", segundo dizem, algo como "A garota do Café".

Não vou fazer a sinopse, apenas dizer que esse filme me impactou e deixou fora de órbita por algumas semanas. Assim como durante a graduação, teve um momento em que eu queria largar tudo e fazer gastronomia, fiquei semanas arquitetando o melhor caminho pra ser um economista pra poder consertar o mundo, afinal era uma idéia de colocar mais pecinhas no lugar e ainda melhorar o desenho...
As resenhas na internet todas dizem a mesma coisa. Do nada, o filme te conquista. A relação improvável entre uma parteira e um assessor do Ministro da Economia da Alemanha vira algo que a gente deseja pra si, mas não foi só isso que me atraiu. Não parei pra checar se os dados estão certos, mas lá pelas tantas alguém diz que o dinheiro que os países ricos gastam diariamente em cafezinho seria suficiente pra acabar com a fome no mundo. Que a grana gasta anualmente pelas européias em maquiagem é o necessário para erradicar as doenças venéreas dos locais miseráveis do mundo... Honestamente, meu cáfé tem outro gosto desde então.
Meu ponto aqui não é vamos dar as mão e salvar o mundo, viva o GreenPeace. Também nem estou falando do nosso egoísmo de país desigual que normalizou o absurdo de crianças na rua no frio de 5º. Escrevo esse texto sob a influência da leitura da riquìssima metáfora da Belíndia, do Edmar Bacha. Meu argumento é que mais que um libelo ou um tratado, o encantamento move.
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