segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vamos namorar à luz do polo petroquimico...

Há um tempo, tive a genial idéia de querer ser Economista. Pra mim o conhecimento é uma coisa um tanto mágica, que me deixa maravilhado ao me dar acesso ao mundo. Fico como criança toda vez que aprendo algo, aliás sou assim desde pequeno. Vibro quando entendo algo relevante quase como se fosse gol do Gremio: o mundo é um quebra-cabeças gigante espalhado no horizonte com umas pecinhas do tamanho de um azulejo num canto... E é minha função ir lá no canto, pegar uma, parar na frente do enorme desenho, olhar pra ele com admiração e respeito, apertando a peça contra o peito e encontrar o lugar dela...

Pois bem, no meio do Curso de Ciência Política fiquei maravilhado com a "teoria da modernização". Em linhas gerais e grosseiras, ela sustenta que a democracia é uma decorrência de certo nível econômico. Acima de tal renda média, o país vai ser democrático, abaixo, é provável que seja uma ditadura, abaixo de X, não tem democracia que se sustente. Demais, não? Demais pelo simples fato que nós do Direito sempre achamos que o mundo se muda com regras. Boa lei, bom mundo. É um pensamento burro e meio infantil, mas ninguém pensa no "problema da democracia", aliás, ninguém pensa em nada. Jurista é tudo otário.

Ademais, era uma fase minha meio de transição. Eu estava saindo da posição do empregado demitido por fazer greve para a de assessor de quem tem o poder de demitir e a perspectiva mudou. E também, tem uma coisa que me fascina que nunca alguém me explicou, então fui tateando por aí, que é o sucesso da estabilidade brasileira e a sua relação com o plano real, dos neoliberais do mal que hoje, nós, esquerda batemos palma. É só olhar, por exemplo, a Argentina cujas crises políticas são decorrentes das crises econômicas.

Bem, em resumo, a economia move o mundo, e se seu já passei pelo direito, pela política, tentando entender o mundo, por que não dar um pulinho no mundo dos números?

Mas sou movido a paixão, e aí precisava de algo que me empurrase ou puxasse, atraísse, enfim. E estava eu na casa dos meus pais vendo nada na TV, eis que surge, De repente, Gina. O filme mais querido que já vi. Querido, simpático, doce, sei lá, me faltam os adjetivos.

É um filme que flerta com você e dentro de cinco minutos cê tá apaixonado. Contra todas as expectativas: filme alemão, feito pra tv, com o impronunciável título de "Frühstück mit einer unbekannten", segundo dizem, algo como "A garota do Café".



Não vou fazer a sinopse, apenas dizer que esse filme me impactou e deixou fora de órbita por algumas semanas. Assim como durante a graduação, teve um momento em que eu queria largar tudo e fazer gastronomia, fiquei semanas arquitetando o melhor caminho pra ser um economista pra poder consertar o mundo, afinal era uma idéia de colocar mais pecinhas no lugar e ainda melhorar o desenho...

As resenhas na internet todas dizem a mesma coisa. Do nada, o filme te conquista. A relação improvável entre uma parteira e um assessor do Ministro da Economia da Alemanha vira algo que a gente deseja pra si, mas não foi só isso que me atraiu. Não parei pra checar se os dados estão certos, mas lá pelas tantas alguém diz que o dinheiro que os países ricos gastam diariamente em cafezinho seria suficiente pra acabar com a fome no mundo. Que a grana gasta anualmente pelas européias em maquiagem é o necessário para erradicar as doenças venéreas dos locais miseráveis do mundo... Honestamente, meu cáfé tem outro gosto desde então.


Meu ponto aqui não é vamos dar as mão e salvar o mundo, viva o GreenPeace. Também nem estou falando do nosso egoísmo de país desigual que normalizou o absurdo de crianças na rua no frio de 5º. Escrevo esse texto sob a influência da leitura da riquìssima metáfora da Belíndia, do Edmar Bacha. Meu argumento é que mais que um libelo ou um tratado, o encantamento move.

domingo, 23 de maio de 2010

Política

Tempos atrás, após um momento de embasbacação com a Beyoncé no clip de Irreplaceable, postei no nick do msn "To the left, to the left!". Alguém veio pegar no meu pé, perguntando qual seria, o próximo, Rebolation? Respondi que não, que evidentemente não tinha apenas um viés musical, que era mais um manifesto, que não sabia como ninguém havia se apropriado ainda de tal lema, que se eu fosse publicitário - e pudesse veicular as crenças ideológicas em horário nobre sem perder pontos pro meu candidato - evidentemente me apropriaria do jargão, e que, meus amigos, todos, por favor "À esquerda"!

Enfim, terminei meu longo arrazoado dizendo que era um exemplar perfeito de PopPolítica. (O que me faz pensar no motivo pelo qual pouca gente fala comigo no msn). Pois bem, pensei até em mudar o nome do blog pra isso "PopPolítica". Comercial, moderno, enfim, eu gostei e é isso que importa. Depois a idéia acabou se perdendo em algum escaninho do cérebro...

Não vou mudar o nome do espaço, mas a idéia de falar de política voltou nos últimos tempos. Reparto o apartamento com um doutorando em Comunicação e dia desses ele propôs que escrevêssemos um artigo sobre blogs políticos. Baita idéia, estamos montando o texto. Mas o motivo que me faz perder momentos desse domingo pra escrever aqui - como se escrever e pensar sobre política fosse algum sacrifício pra mim... - é outro.

Estou desde ontem lendo tudo o que acho na internet sobre a eleição presidencial. Todo mundo sabe, mas repito: as pesquisas da última semana mostram uma subida de 5 pontos pra Dilma e uma queda de 7 para o Serra. Essa, a do Datafolha, que apenas confirma o que disse as do Census e do Vox Populi.

Todo mundo tá comentando que o Serra vai ter que mudar a estratégia, que o Aécio tem que entrar na disputa pra poder equilibrar o jogo, blábláblá. Eu acho outra coisa. Esta eleição já era.

É claro que muitas águas ainda vão rolar, como disse a Marina Silva, que eleição é um troço complicado e tudo mais. Mas se um programa - todos atribuem a mudança no cenário ao programa eleitoral do PT no dia 13 - de dez minutos causou um estrago de 12 pontos percentuais na campanha do Serra, imaginem quando o horário eleitoral começar de verdade. E, segundo consta, o PTMDB vai ter quase o dobro do tempo da aliança PSDBFL. Babaus!

Mas não é só isso. Campanha, sobretudo pra presidente é publicidade. Infelizmente, mas é assim. Claro que nós Cientistas Políticos (ou, numa taxinomia menos pretensiosa, Politólogos) gostaríamos de partidos ideológicos (o que o PT já foi, mas mudou de idéia quando descobriu que na Política o legal é vencer), de alianças programáticas (algum dia, alguém terá de escrever por que PT e PSDB não se uniram no início da década de 90) e mais um monte de coisas com nomes belos. Mas na vida real é assim: quem é mais palatável, tendo uma boa estrutura no interior e dispuser de mais tempo na tv ganha. Simples!

Neste caso, as estruturas são semelhantes, mas com uma vantagem para a Dilma que ningém sublinhou: a base do PFL é o norte/nordeste, que desta vez vota Lula, ou seja, Dilma. Com relação ao tempo de TV, já falamos.

Mas o diferencial aqui é a cara, a lage, a latinha. A Dilma apresenta melhoras gigantescas. Era difícil ouvi-la: fala dura, rápida, ao estilo general. Agora está mais mãe - alguém viu a inserção sobre o Crack? - fala mais ritmada, sem contar o cabelo e as, por assim dizer, alterações estéticas. Ainda tem que melhorar bastante, por exemplo, na espontaneidade dos gestos: no programa do dia 13, na cena que faz com um produtor rural do RS, fica o tempo todo com as mãos pra trás, parece o general aquele da Coréia do Norte.

Mas o Serra, pelamordedeus. Se fosse apenas picolé de chuchu, como diz o Simão, seria ótimo. Não tem plástica que resolva, em uma expressão, ele assusta.

Há, ainda, outros fatores: o PT venceu 2002 porque era o Antiéfeagá. Quem mesmo quer ser o Antilula? Os políticos, por regra, no fim do mandato estão desgastados, mas Lula bate quase 80% de aprovação toda semana.

O dilema do Serra é o seguinte: não pode bater no Lula, porque é suicidio, e não pode se vincular ao Lula, porque esta vaga está preenchida. Mas o problema fundamental é outro: o que tem a oposição a dizer de novidade? A oposição passou seis dos sete anos sem saber a que se opôr (o ano de execeção fica por conta do mensalão), não é agora que vai descobrir. Gestão competente? Bem, é exatamente a marca que colaram à Dilma; corrupção? Isso já não deu certo antes, além do que, o gigantesco teto de vidro criado aqui no RS é um problema; economia crescente? Bem, o Lula tá dando palestras sobre o assunto no mundo; inserção internacional? Qual? FHC, com seus doutorados, já virou sombra de Lula neste cenário; programas sociais, ah, fala sério!

Pessoalmente, acho que o governo Lula surfa numa onda começada em 1994. Penso que FHC, com toda a oposição do PT, fez uma penca de reformas fundamentais porque tinha o PMDB e o PFL, mas também porque resolveu meter a cara. Lula, por sua vez, tem uma oposição de brincadeira, mas uma base um tanto instável pra reformas estruturais, fundada na instabilidade do PMDB e em meia dúzia de partidos nanicos (Ok, tem o PC do B e o PDT fiéis na retaguarda). Fica então surfando na onda da economia - competentemente gerida por sua equipe - e de seu carisma, em que pese seja ridículo atribuir sua aprovação aos programas sociais e a um paternalismo ao norte/nordeste, tal como faz a imprensa burra e preconceituosa. A menos que se imagine que 95% do povo brasileiro vive lá, dizer que 80% de aprovação é por conta do bolsa família é uma piada de cálculo.

Claro que a oposição poderia levantar as bandeiras das reformas da previdência, tributária, agrária, etc, que ficaram engavetadas. Mas a oposição não teve coragem nem interesse pra fazer isso antes, obviamente não terá agora. Aliás, alguém, por favor, me diga, quais as bandeiras da direita (sei lá o que o PSDB é nessa história) neste país.

Enfim, o interessante é que lá por novembro, dezembro, minha Prof., no mestrado já havia prenunciado esse cenário. Analisando os dados acessórios de uma pesquisa que eu também tinha lido, ela disse que se política fosse um negócio racional, o Serra deveria retirar sua candidatura. Não entendi nada, afinal ele tinha pencas de pontos à frente da Dilma.

Hoje entendo. Não tem como concorrer com um governo que tem 80 por cento de aprovação. Se é pra ser o AindaLula, quem é melhor, a Senhora-com-cara-de durona/quase/simpática-indicada-pelo-Cara, ou Tiozinho-com-cara-de-nada-amigo-do-FHC? Vem aí mais oito anos de PT, meus caros, com a graça de Saint' Obama.

Pra encerrar e confirmar a tese eleição=propaganda, quem tiver tempo de dar uma vasculhada no youtube vai achar várias semelhanças entre a peça do PT do dia 13 e as do Fernando Henrique. Fundo azul em propaganda do PT? Cadê o vermelho? Num momento fiquei pensando que na próxima cena ouviria a musiquinha "Tá na minha mão, na nossa mão, na mão da gente, fazer de Fernando Henrique nosso presidente..." Legal, tâmo aplicando PDCA neles!

Por fim, um salve aos advogados que garantiram a ida da peça ao ar. Sempre alertas pra bagunçar o sistema. É nóis, mano! Pois se aquilo não é propaganda eleitoral antecipada, abandono minhas crenças em direita e esquerda...

A parte legal disso tudo é que daqui a uns dias tudo muda e essa minha avaliação vai pro saco. Política... No meio de tudo isso, só uma certeza: "To the left, to the left!"


segunda-feira, 3 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Dos inimigos do Batman!

As pessoas são grandes surpresas! Todos sabemos, mas permitam-me retomar o argumento, o termo pessoa vem de persona, a máscara que os atores utilizavam no teatro grego para dar vida aos personagens. Incrível, portanto, a reviravolta do termo, posto que a persona era exatamente aquilo que escondia, que transformava, que fazia o ator ser menos a pessoa, no sentido que entendemos hoje.

Há quem ainda remonte a origem ao verbo personar, "soar por meio de", assim, a persona servia também para amplificar a voz dos atores no grande picadeiro e então.

Etimologia não ajuda. Mas explica, talvez, esse caracter demasiado humano em que se nos apresenta a persona, à qual atribuímos ares de realidade e o status de pessoa (uma), mas é por trás da qual que se esconde o real. Sociologicamente isso é explicado. Funcionalistas de plantão, desde Parsons vêm com este papinho dos papéis, blábláblá... Psicólogos provavelmente também tem essas nóias: essas minhas conversas bem enveredam por um arremedo da psicologia lacaniana, a incalcançabilidade do real e o todas essas abobrinhas...

E o que há de comum entre o teatro grego e meus rudimentos de latim - ambos apreendidos de Hannah Arendt - franceses de escrita difícil e esta madrugada? A incompreensão do outro, a extenuante tentativa de superar a máscara, o apreendimento das entrelinhas, o garimpo dos sentidos (bah, isso dá um belo nome de livro "O garimpo dos sentidos", por Oseias Amaral).

Enfim, talvez não haja pessoa, apenas várias personas, dizendo isso aqui, escrevendo aquilo ali, agindo assim acolá, sem ser de fato. Perspectiva assustadora.