terça-feira, 5 de outubro de 2010

A propósito do vídeo babaca que circula entre os "irmãos"

A propósito dos 187 emails indicando o vídeo alocado aqui: http://www.youtube.com/watch?v=T2Zc37ICWWY, minha resposta:


Meus Irmãos (hahahaha!):


Havia um tempo em que os crentes desconfiávamos de quem andava com a Igreja Católica (naqueles tempos, a Babilônia... ) e os mais sagazes viam com suspeita a idéia de misturar fé com política. Nesse tempo, também era mal vista a idéia de mandar votar ou não votar a partir do púlpito, lugar (então) considerado sagrado. Pelo menos superaram o preconceito com os católicos, mas se parece que estão civilizados, ledo engano.

Aos que sutentam tanta antipatia ao tal PL 122, sugiro que leiam o texto (que envio anexo, ademais). Se acharem ali as tão temidas previsões, se encontrarem no texto fundamento legal pra tão sombrias previsões me avisem. Só lhes lembro que EU SOU ESPECIALISTA EM DIREITO, vcs não. Não é arrogância, só que não palpito nas equações que meus amigos engenheiros fazem pra construir qualquer coisa, pelo simples motivo de que não sei nada do assunto! Mas não creio que este é o foco da discussão. Ela é infinitamente menos jurídica do que espiritual.

Em outros termos, desagregando o discurso do tal pastor do vídeo (que até merece um crédito por não ser aquela coisa bizarra que é o Malafaia, que, ninguém me convence do contrário, gosta é de aparecer), o que entendo é o seguinte: fracassamos como igreja, a iniquidade já tomou conta, mas nos resta agarrar a uma última raiz legal a fim de não cair despenhadeira abaixo. Isto é, há homossexuais por tudo, espiritualmente eles representam o mal, mas existem e estão espalhados por aí. Não fazemos nada, não conseguimos fazer nada, eles venceram, mas uauuu, eles podem levar vantagem no mundo espiritual, massss, nõs vamos sacaneá-los do ponto de vista legal.. Yupi, muito cristão isso!

Não concordo com nada dos conceitos acima expostos, mas o que mais me irrita, o que me irrita de fato, é que este discurso, ao fim e ao cabo é só pseudocristão. É cristianismo às avessas e ninguém me faz mudar de idéia. Porque, sim, merece punição alguem que discrimina negros, mulheres, homosexuais ou seja quem for! Mas para além da discussão sobre punição ou não - sobre a qual, repito, vcs não entendem nada, mesmo porque não leram o texto - o que interessa é que, como igreja, no sentido sociológico, como grupo, é claro, não como povo de Deus na terra, tentam justificar a agressão, a discriminação a um grupo.

Ao meu sentir, a Igreja verdadeira tinha que bater palmas, apoiar qualquer tentativa, legal ou não, de proteger um grupo discriminado, mesmo que isso vá contra nossas opiniões morais, pelo simples fato de que é esta a função da Igreja: pregar o amor de Deus, mesmo àqueles que não gostamos. E meu conceito de amor de Deus, nem a pau, justifica a defesa de quem lança impropérios, xingamentos e afins sobre qualquer pessoa, sim, porque é isso que prevê o raio do artigo 20 do projeto, o único que, de algum modo, bem delirante apenas, pode ser visto como afetando "nossa liberdade de fé":

"Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.


Enfim, volto à saudade daqueles tempos em que a Igreja era contra - ou pelo menos não era a favor - à prática ou indução de discriminação ou preconceitos, sejam quais fossem!

Por fim, esperei pacas pra escrever esta resposta porque simplesmente cansei de nós crentes. Não tenho mais a mínima vontade de tentar convencer-nos de qualquer coisa, pelo simples fato de que somos burros. Pra mim, crente e burro é sinonimo, pronto. Faço um esforço diário pr me livrar das raízes mais preconceituosas que me legaram. N'alguns casos, progressos, mas é difícil, admito. Mas é A VIGÉSIMA VEZ QUE RECEBO ESTA DROGA DE VÍDEO DAS CRIANCINHAS PASSANDO FOME E DA IGREJA QUE TEM QUE SE UNIR E TAL , COM UMAS 134 BABOSEIRAS JURÍDICAS.

Que Igreja? Todos sabemos que esses caras vivem se matando por algum prestígiozinho e dinheiro. E agora querem se unir - com a Igreja católica, pasmem!!!! - pra combater uma lei que pune a discriminação???? ESTAMOS MESMO FALANDO SÉRIO?????! Vou forçar a barra, mas acredito mesmo que devíamos estar é do outro lado. Não sei porque, mas suspeito de que é pelo simples motivo de que eu li os evangelhos, que sempre via Jesus ao lado dos que seriam apedrejados, dos que seriam discriminados, dos que não tinham proteção, mesmo sendo eles pecadores ou qualquer outra coisa que então era considerada escória!

Ou seja, para além de toda esta papagaiada e teatro ridículo que se tornou a "Igreja", ainda a verdadeira religião é cuidar dos órfãos, das viúvas e, adiciono eu, dos aidéticos, dos mendigos, dos famintos, dos viciados E DOS HOMOSSEXUAIS, enfim, dos desamparados!

Encerro com o seguinte. Sei que todos os que me repassam estes vídeos e emails estão imbuídos da melhor vontade. Em que pesem meus rompantes, eu também estou. Só peço que sopesem os que estão dizendo, o que estão apoiando o que estão repassando. E, SEM OFENSA, NÃO ME MANDEM MAIS ISSO!

Ps: Alguém me explica aquele papo de "Deus vai julgar esta nação..." Julgar a "nação"? Não existe mais responsabilidade pessoal? Os outros fazem e eu pago? Por qual critério isso se assemelha a justiça? Eita conversinha de gente doente!


PS. 2: Que tal repassarem também esta resposta e fazerem um debate, para além daquela coisa monocromática baseada naquele vídeo bizzarro das crianças passando fome (na África, onde não há leis 'a favor" dos gays e eles já estão "bem julgadinhos", por assim dizer).

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vamos namorar à luz do polo petroquimico...

Há um tempo, tive a genial idéia de querer ser Economista. Pra mim o conhecimento é uma coisa um tanto mágica, que me deixa maravilhado ao me dar acesso ao mundo. Fico como criança toda vez que aprendo algo, aliás sou assim desde pequeno. Vibro quando entendo algo relevante quase como se fosse gol do Gremio: o mundo é um quebra-cabeças gigante espalhado no horizonte com umas pecinhas do tamanho de um azulejo num canto... E é minha função ir lá no canto, pegar uma, parar na frente do enorme desenho, olhar pra ele com admiração e respeito, apertando a peça contra o peito e encontrar o lugar dela...

Pois bem, no meio do Curso de Ciência Política fiquei maravilhado com a "teoria da modernização". Em linhas gerais e grosseiras, ela sustenta que a democracia é uma decorrência de certo nível econômico. Acima de tal renda média, o país vai ser democrático, abaixo, é provável que seja uma ditadura, abaixo de X, não tem democracia que se sustente. Demais, não? Demais pelo simples fato que nós do Direito sempre achamos que o mundo se muda com regras. Boa lei, bom mundo. É um pensamento burro e meio infantil, mas ninguém pensa no "problema da democracia", aliás, ninguém pensa em nada. Jurista é tudo otário.

Ademais, era uma fase minha meio de transição. Eu estava saindo da posição do empregado demitido por fazer greve para a de assessor de quem tem o poder de demitir e a perspectiva mudou. E também, tem uma coisa que me fascina que nunca alguém me explicou, então fui tateando por aí, que é o sucesso da estabilidade brasileira e a sua relação com o plano real, dos neoliberais do mal que hoje, nós, esquerda batemos palma. É só olhar, por exemplo, a Argentina cujas crises políticas são decorrentes das crises econômicas.

Bem, em resumo, a economia move o mundo, e se seu já passei pelo direito, pela política, tentando entender o mundo, por que não dar um pulinho no mundo dos números?

Mas sou movido a paixão, e aí precisava de algo que me empurrase ou puxasse, atraísse, enfim. E estava eu na casa dos meus pais vendo nada na TV, eis que surge, De repente, Gina. O filme mais querido que já vi. Querido, simpático, doce, sei lá, me faltam os adjetivos.

É um filme que flerta com você e dentro de cinco minutos cê tá apaixonado. Contra todas as expectativas: filme alemão, feito pra tv, com o impronunciável título de "Frühstück mit einer unbekannten", segundo dizem, algo como "A garota do Café".



Não vou fazer a sinopse, apenas dizer que esse filme me impactou e deixou fora de órbita por algumas semanas. Assim como durante a graduação, teve um momento em que eu queria largar tudo e fazer gastronomia, fiquei semanas arquitetando o melhor caminho pra ser um economista pra poder consertar o mundo, afinal era uma idéia de colocar mais pecinhas no lugar e ainda melhorar o desenho...

As resenhas na internet todas dizem a mesma coisa. Do nada, o filme te conquista. A relação improvável entre uma parteira e um assessor do Ministro da Economia da Alemanha vira algo que a gente deseja pra si, mas não foi só isso que me atraiu. Não parei pra checar se os dados estão certos, mas lá pelas tantas alguém diz que o dinheiro que os países ricos gastam diariamente em cafezinho seria suficiente pra acabar com a fome no mundo. Que a grana gasta anualmente pelas européias em maquiagem é o necessário para erradicar as doenças venéreas dos locais miseráveis do mundo... Honestamente, meu cáfé tem outro gosto desde então.


Meu ponto aqui não é vamos dar as mão e salvar o mundo, viva o GreenPeace. Também nem estou falando do nosso egoísmo de país desigual que normalizou o absurdo de crianças na rua no frio de 5º. Escrevo esse texto sob a influência da leitura da riquìssima metáfora da Belíndia, do Edmar Bacha. Meu argumento é que mais que um libelo ou um tratado, o encantamento move.

domingo, 23 de maio de 2010

Política

Tempos atrás, após um momento de embasbacação com a Beyoncé no clip de Irreplaceable, postei no nick do msn "To the left, to the left!". Alguém veio pegar no meu pé, perguntando qual seria, o próximo, Rebolation? Respondi que não, que evidentemente não tinha apenas um viés musical, que era mais um manifesto, que não sabia como ninguém havia se apropriado ainda de tal lema, que se eu fosse publicitário - e pudesse veicular as crenças ideológicas em horário nobre sem perder pontos pro meu candidato - evidentemente me apropriaria do jargão, e que, meus amigos, todos, por favor "À esquerda"!

Enfim, terminei meu longo arrazoado dizendo que era um exemplar perfeito de PopPolítica. (O que me faz pensar no motivo pelo qual pouca gente fala comigo no msn). Pois bem, pensei até em mudar o nome do blog pra isso "PopPolítica". Comercial, moderno, enfim, eu gostei e é isso que importa. Depois a idéia acabou se perdendo em algum escaninho do cérebro...

Não vou mudar o nome do espaço, mas a idéia de falar de política voltou nos últimos tempos. Reparto o apartamento com um doutorando em Comunicação e dia desses ele propôs que escrevêssemos um artigo sobre blogs políticos. Baita idéia, estamos montando o texto. Mas o motivo que me faz perder momentos desse domingo pra escrever aqui - como se escrever e pensar sobre política fosse algum sacrifício pra mim... - é outro.

Estou desde ontem lendo tudo o que acho na internet sobre a eleição presidencial. Todo mundo sabe, mas repito: as pesquisas da última semana mostram uma subida de 5 pontos pra Dilma e uma queda de 7 para o Serra. Essa, a do Datafolha, que apenas confirma o que disse as do Census e do Vox Populi.

Todo mundo tá comentando que o Serra vai ter que mudar a estratégia, que o Aécio tem que entrar na disputa pra poder equilibrar o jogo, blábláblá. Eu acho outra coisa. Esta eleição já era.

É claro que muitas águas ainda vão rolar, como disse a Marina Silva, que eleição é um troço complicado e tudo mais. Mas se um programa - todos atribuem a mudança no cenário ao programa eleitoral do PT no dia 13 - de dez minutos causou um estrago de 12 pontos percentuais na campanha do Serra, imaginem quando o horário eleitoral começar de verdade. E, segundo consta, o PTMDB vai ter quase o dobro do tempo da aliança PSDBFL. Babaus!

Mas não é só isso. Campanha, sobretudo pra presidente é publicidade. Infelizmente, mas é assim. Claro que nós Cientistas Políticos (ou, numa taxinomia menos pretensiosa, Politólogos) gostaríamos de partidos ideológicos (o que o PT já foi, mas mudou de idéia quando descobriu que na Política o legal é vencer), de alianças programáticas (algum dia, alguém terá de escrever por que PT e PSDB não se uniram no início da década de 90) e mais um monte de coisas com nomes belos. Mas na vida real é assim: quem é mais palatável, tendo uma boa estrutura no interior e dispuser de mais tempo na tv ganha. Simples!

Neste caso, as estruturas são semelhantes, mas com uma vantagem para a Dilma que ningém sublinhou: a base do PFL é o norte/nordeste, que desta vez vota Lula, ou seja, Dilma. Com relação ao tempo de TV, já falamos.

Mas o diferencial aqui é a cara, a lage, a latinha. A Dilma apresenta melhoras gigantescas. Era difícil ouvi-la: fala dura, rápida, ao estilo general. Agora está mais mãe - alguém viu a inserção sobre o Crack? - fala mais ritmada, sem contar o cabelo e as, por assim dizer, alterações estéticas. Ainda tem que melhorar bastante, por exemplo, na espontaneidade dos gestos: no programa do dia 13, na cena que faz com um produtor rural do RS, fica o tempo todo com as mãos pra trás, parece o general aquele da Coréia do Norte.

Mas o Serra, pelamordedeus. Se fosse apenas picolé de chuchu, como diz o Simão, seria ótimo. Não tem plástica que resolva, em uma expressão, ele assusta.

Há, ainda, outros fatores: o PT venceu 2002 porque era o Antiéfeagá. Quem mesmo quer ser o Antilula? Os políticos, por regra, no fim do mandato estão desgastados, mas Lula bate quase 80% de aprovação toda semana.

O dilema do Serra é o seguinte: não pode bater no Lula, porque é suicidio, e não pode se vincular ao Lula, porque esta vaga está preenchida. Mas o problema fundamental é outro: o que tem a oposição a dizer de novidade? A oposição passou seis dos sete anos sem saber a que se opôr (o ano de execeção fica por conta do mensalão), não é agora que vai descobrir. Gestão competente? Bem, é exatamente a marca que colaram à Dilma; corrupção? Isso já não deu certo antes, além do que, o gigantesco teto de vidro criado aqui no RS é um problema; economia crescente? Bem, o Lula tá dando palestras sobre o assunto no mundo; inserção internacional? Qual? FHC, com seus doutorados, já virou sombra de Lula neste cenário; programas sociais, ah, fala sério!

Pessoalmente, acho que o governo Lula surfa numa onda começada em 1994. Penso que FHC, com toda a oposição do PT, fez uma penca de reformas fundamentais porque tinha o PMDB e o PFL, mas também porque resolveu meter a cara. Lula, por sua vez, tem uma oposição de brincadeira, mas uma base um tanto instável pra reformas estruturais, fundada na instabilidade do PMDB e em meia dúzia de partidos nanicos (Ok, tem o PC do B e o PDT fiéis na retaguarda). Fica então surfando na onda da economia - competentemente gerida por sua equipe - e de seu carisma, em que pese seja ridículo atribuir sua aprovação aos programas sociais e a um paternalismo ao norte/nordeste, tal como faz a imprensa burra e preconceituosa. A menos que se imagine que 95% do povo brasileiro vive lá, dizer que 80% de aprovação é por conta do bolsa família é uma piada de cálculo.

Claro que a oposição poderia levantar as bandeiras das reformas da previdência, tributária, agrária, etc, que ficaram engavetadas. Mas a oposição não teve coragem nem interesse pra fazer isso antes, obviamente não terá agora. Aliás, alguém, por favor, me diga, quais as bandeiras da direita (sei lá o que o PSDB é nessa história) neste país.

Enfim, o interessante é que lá por novembro, dezembro, minha Prof., no mestrado já havia prenunciado esse cenário. Analisando os dados acessórios de uma pesquisa que eu também tinha lido, ela disse que se política fosse um negócio racional, o Serra deveria retirar sua candidatura. Não entendi nada, afinal ele tinha pencas de pontos à frente da Dilma.

Hoje entendo. Não tem como concorrer com um governo que tem 80 por cento de aprovação. Se é pra ser o AindaLula, quem é melhor, a Senhora-com-cara-de durona/quase/simpática-indicada-pelo-Cara, ou Tiozinho-com-cara-de-nada-amigo-do-FHC? Vem aí mais oito anos de PT, meus caros, com a graça de Saint' Obama.

Pra encerrar e confirmar a tese eleição=propaganda, quem tiver tempo de dar uma vasculhada no youtube vai achar várias semelhanças entre a peça do PT do dia 13 e as do Fernando Henrique. Fundo azul em propaganda do PT? Cadê o vermelho? Num momento fiquei pensando que na próxima cena ouviria a musiquinha "Tá na minha mão, na nossa mão, na mão da gente, fazer de Fernando Henrique nosso presidente..." Legal, tâmo aplicando PDCA neles!

Por fim, um salve aos advogados que garantiram a ida da peça ao ar. Sempre alertas pra bagunçar o sistema. É nóis, mano! Pois se aquilo não é propaganda eleitoral antecipada, abandono minhas crenças em direita e esquerda...

A parte legal disso tudo é que daqui a uns dias tudo muda e essa minha avaliação vai pro saco. Política... No meio de tudo isso, só uma certeza: "To the left, to the left!"


segunda-feira, 3 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Dos inimigos do Batman!

As pessoas são grandes surpresas! Todos sabemos, mas permitam-me retomar o argumento, o termo pessoa vem de persona, a máscara que os atores utilizavam no teatro grego para dar vida aos personagens. Incrível, portanto, a reviravolta do termo, posto que a persona era exatamente aquilo que escondia, que transformava, que fazia o ator ser menos a pessoa, no sentido que entendemos hoje.

Há quem ainda remonte a origem ao verbo personar, "soar por meio de", assim, a persona servia também para amplificar a voz dos atores no grande picadeiro e então.

Etimologia não ajuda. Mas explica, talvez, esse caracter demasiado humano em que se nos apresenta a persona, à qual atribuímos ares de realidade e o status de pessoa (uma), mas é por trás da qual que se esconde o real. Sociologicamente isso é explicado. Funcionalistas de plantão, desde Parsons vêm com este papinho dos papéis, blábláblá... Psicólogos provavelmente também tem essas nóias: essas minhas conversas bem enveredam por um arremedo da psicologia lacaniana, a incalcançabilidade do real e o todas essas abobrinhas...

E o que há de comum entre o teatro grego e meus rudimentos de latim - ambos apreendidos de Hannah Arendt - franceses de escrita difícil e esta madrugada? A incompreensão do outro, a extenuante tentativa de superar a máscara, o apreendimento das entrelinhas, o garimpo dos sentidos (bah, isso dá um belo nome de livro "O garimpo dos sentidos", por Oseias Amaral).

Enfim, talvez não haja pessoa, apenas várias personas, dizendo isso aqui, escrevendo aquilo ali, agindo assim acolá, sem ser de fato. Perspectiva assustadora.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Teologia

Deus existe, sabe! Pro bem e pro mal. É um postulado da teologia simpática à divindade que Deus não pode fazer o mal, que ele é amor em essência, mas eu discordo em parte. Discordo porque lendo a bíblia, já sublinhou bem a Lini, minha irmã, vamos ver matança e mais matança autorizada e sufragada pelo deus de Israel, que nós tomamos de empréstimo, ao meu ver, forçando um pouco a barra.

Eu não posso reclamar do homi. No geral, tá tudo certo, vivo bem, saúde, família, blá blá, blá. Apenas o sujeito chato sou eu, macaco, pipoca, tobogã, eu acho tudo isso um saco!

Mas se ele existe, eu comprovo por outros motivos. É tambem um postulado, dogma, que Deus é pai. Se é pai, e isso é uma droga, corrige e disciplina. Em termos menos simpáticos, ferra sua vida.

Deus existe, ferra minha vida e eu demonstro: Sábado passado eu ia saír. Tinha uma apresentação de seminário do mestrado hoje. Mas era um tema fácil, eu já havia preparado a metade e o plano era teminar no domingo. Saída confirmada, lugar perto, duas quadras da minha casa, iam estar umas três das mulheres da minha vida, tudo certo. Exceto que esqueci de combinar com Javé, né, ó!

Eu sou o derrubador de sistemas. Onde eu chego, cai a rede, o sistema, os aviões não decolam. Fui buscar dinheiro pra noite, óbvio a rede caiu. Caiu toda a internet no meu bairro, fui em dois caixas eletrônicos e nada, nadica de nada!

Mas eu gosto de, por assim dizer, medir forças com a divindade, ora! Filho rebelde é assim e ele sabe. Catei uns pila no armário, pedi pro vizinho e me toquei pra fila. Depois de meia hora, na hora de comprar o ingresso, descubro que estava na fila do único lugar do mundo que não aceita cartão de débito! Deus mexendo os pauzinhos, é claro. Volto pra casa, leio mais um pouco, acordo bem no domingo, termino o seminário, apresentação de sucesso, elogios e o diabaquatro. Deus existe e manda na minha vida. Que saco!

Daí hoje, tento de novo. Tá, tem uma dissertação pra eu escrever, mas quem liga? Feriado e eu vou pra noite afogar as mágoas. Isso, é claro, até o indicador divino me apontar. Por algum motivo besta, fechei a grade da porta, minha colega de apê não tem chave, teve que me chamar, tive que sair no meio da festa, enfim, ferrou tudo de novo. O detalhé é que nunca fecho aquela droga, que sempre tem alguem em casa, que nem ia levar o celular, que...

Ok, talvez eu tenha de me conformar. Deuzo existe. Deuzé pai! Como pai, corrige, disciplina e bota o filho no caminho. Ok, começo minha dissertação amanhã. Inferno!
Pos scriptum: Vou fazer, mas não sem meu protesto.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Música!

Meia noite e meia, vinho na cabeça e lembrei do tempo em que eu não manjava absolutamente nada de ingreis além do verbo to be mal ensinado na escola pública, logo, não sabia o que as músicas significavam. Tempo saudoso em que não tinha Agravos de meia dúzia de milhões, nem dissertação, nem aula no sábado nem nada. A única preocupação - já que papai sustentava e a escola eu tirava de letra - era a vida adolescente: ser aceito, não ser tão tosco, a Joana, a Daia, a Rosane, a Sandra a Carol (ai, a Carol...!) e todas as paixões adolescentes.
  • Naquele - bom - tempo, que eu escutava União FM e me deliciava com músicas das quais eu não fazia a menor idéia do significado. Era a coisa do prazer do som pelo som, e eu ficava imaginando criando meu próprio universo, sem saber se quem cantava estava morrendo, narrando um orgasmo ou falando sobre fantasmas. Era tudo a mesma coisa!
Então, pra quem gosta de listas, aí vai o Top-sei-lá-quantos de músicas que eu não entendia e preferia assim, pois hoje dá vontade de cortar os pulsos no fio de folha de ofício. Faça sua lista. Ou ache algo mais útil pra fazer, é claro.
  • Out a reach - Gabrielle. O baixo e o piano do início já me ganhavam. Quando entrava a voz aveludada da mulé eu ia à loucura. E o refrão, então, com aquela guitarra discreta? Demais. Eu achava perfeita pra cenas afetivas públicas - românticas, pronto, falei. Alias, vocês sabem a origem do termo romance? Tá, não tem nada a ver com o assunto, fica pra outra hora.
Sei lá o que eu imaginava, mas é uma música agradável de ouvir, combina com esperar alguem num restaurante, levantar sorrindo quando ela chega, coisas do gênero. Me trazia boas sensações, mas agora tenho que abstrair da letra quando ouço ! Out a reach, so far! Que triste.
Queria por aqui o link pra esta tragédia cantada, mas ainda não sei fazer isso. Quem sabe amanhã.
  • PS: Pesquisando pra este post, descobri que tal música faz parte da trilha de Bridget Jones, aquele aporrinhamento sem tamanho. Eita mulherzinha chata aquela.

Posto as outras amanhã, que tenho que estar inteiro pro meu Agravo.

  • PS 2: Peço desculpas pela ausência de postagens, mas é que ando emburrecendo. Não tenho muitos assuntos e não pretendo ficar falando sobre meu sempre estranho dia-a-dia. E sim, havia esquecido a senha. De novo!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

TV

E aê! Cá estou. Pra dizer o seguinte: tava vendo meu msn e alguem postou algo do tipo "tv é uma droga". Eis algo que discordo. Parcialmente, na verdade. Meu argumento é o seguinte: tv aberta, fechada, nacional, estrangeira, dia ou noite, sim, passa muuuuita porcaria. Mas também há achados.

É que tv é importante. Li mais que a maioria das pessoas que conheço, não que seja um mérito, é que eu era feinho de dar dó, daí não tinha muitos amigos, mas tenho certeza que minha formação cultural se deu mais que por livros, pelo que vi na tv. É por isso que acho que tv é assunto sério. Não só as roupas, jeito de falar e coisas externas copiamos dos folhetins. Nossa visão de mundo, nossa cosmologia também vem muito daí. Por isso, mesmo atualmente, quando que ligo a tv a cada 15 dias sou um tantim hollywood e projac.

Mas no meio da porcariada - tá, este termo não existe - que gastam nossos olhos, um nome: Aaron Sorkin. Podem ir atrás de qualquer coisa que tenha estas duas palavras, feitas depois de 1995. Sorkin é um roteirista com cara de doido que escreve os diálogos mais interessantes que já foram escritos. Sabem aquele filme simpático com a Annette Bening e, sei lá, o Bill Pulman, Meu querido presidente, sim, é dele. Mas aí que a coisa começa a ficar quente.

Na pesquisa pra esse filminho, no máximo simpático, Sorkin se tocou que queria mesmo fazer um negócio sobre política. Daí nasceu, o que? The West Wing. The West Wing é simplesmente a melhor série de todos os tempos. Opinião minha? Não, da crítica. Ningúem ganhou tantos prêmios. Sete temporadas absolutamente geniais - na verdade, só posso opinar pelas quatro primeiras, que tenho os dvds e assisti umas 17 vezes.

The West Wing tem tudo que uma série boa tem que ter, aquela coisa de te envolver com os personagens, excelentes atores, ótima produção, mas o personagem principal é o roteiro. Sorkin. Digam-me aí qual outra série cita expressamente Rawls e o véu da ignorância, discute o Tribunal Penal Internacional, faz tu pensar que os mandamentos não são apenas dez, põe em discussão cotas, leis protetivas a minorias e ainda tem pencas de milhões de pessoas, que nunca entraram numa faculdade de direito ou política assistindo?

Ok, dirão os incrédulos que sou tendencioso, que é óbvio que um estudante de política vai gostar de uma série sobre... política, que um advogado tem mesmo que idolatrar uma série sobre... leis. Mas não é nada disso. Quando conheci The West Wing, eu tinha, sei lá, uns 17 anos e chegava do trabalho à meia noite. O SBT tinha algo como Séries Premiadas e eu ligava a tv enquanto preparava algo pra comer. Um dia, sentei, comecei a prestar atenção e, fiz a faculdade de Direito e estou no mestrado de Ciência Política.

Sim, espantando qualquer pretensão, sou advogado e serei político por causa da Tv. Tv é cultura - ou instrumento de - meu mundo se forma a partir deste horizonte cultural, ou seja, o que vejo e escuto influencia na minha decisão de me tornar funkeiro ou fuzileiro naval.

Mas, voltando ao Sorkin e suas falas magníficas, para além delas, ele tem a mágica de construir um mundo de trabalho do qual vc quer fazer parte. Sério, agora acabei de ver a primeira e única temporada de Stúdio 60, que ele realizou após deixar The West Wing. É sobre Tv, a produção de um programa de comédia na tv. O que pode ter de legal nisso? Não sei, mas estou seriamente pensando em me embrenhar numa aula de teatro e me tornar comediante ou algo assim. Viram? É como se alguem conseguisse tornar os bastidores da Zorra Total um objeto de desejo, o que é muito porque se alguem conseguisse tornar o programa em si atraente já seria um mérito.

Well, aí está, então Stúdio 60. Assisti a primeira temporada e fico pensando como, num mundo com 24 Horas, The Office e coisas vampirescas, fazem apenas uma temporada de algo com Stúdio 60. Bem, tem links na internet a torto e à direito. Baixem, já que - creio eu - não tem em dvd. Se alguem achar, aliás, me avisa, quero comprar pra mostrar pros meus netos. Ah, e tem o Matthew Perry - o cara mais engraçado de Friends, a Amanda Peeet, que mesmo grávida dá vontade de pegar, o Bradley Whitford - sempre no papel de Josh, o irmão mais velho perfeito.

Procurem o Sorkin. Tv ainda pode inspirar. Tenho dito.