sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Bem, amigos da rede globo....

Talvez eu seja um nojento!

É,talvez! A coisa toda começou com a Jamile, ex-colega de trabalho que me olhou nos olhos e disse Oseias, como tu és elitista. Claro, já tinha ouvido da minha família coisas do tipo, mas assim, vindo de uma pessoa nem não tão próxima, com um grave de seriedade, comecei a considerar. Até porque ela tinha fundamentação. J, como boa profissional do Direito, em atenção ao artigo 93, inciso IX, da Constituição fundamentava sua constatação em um monte de episódios.

Não dei muita bola, pois pra mim isso só demonstrava o que eu sempre admiti: eu não gosto de um monte de gente e não tenho problemas com isso. Aprendi com o Mestre dos Magos, na aula de Penal IV: Há pessoas com as quais não é bom se dar mesmo. E além disso, apesar de bem fundamentada, a sentença da J era um tanto estranha porque surgiu n’uma conversa na qual eu dizia que não gostava de X exatamente porque ele era cheio de frifrufru, espumante não era champagne, freqüentava o Fazano e o diabo em pé.

A coisa começou a tomar corpo nessa semana. A Ju vive me dizendo que tenho um ar sério e empolado. A Márcia-amo-mais-que tudo adoora dizer que eu me sinto, mas com elas eu brinco mesmo de ser esnobe só porque elas acham engraçados.Ontem tinha apitaço da minha turma de formandos. É uma coisa tosca na qual todo mundo veste a camiseta da turma, uns chapéus de palhaço, uns colares pseudo-havaianos (porque de plástico), óculos bestas e outros apetrechos de festa infantil, de preferência traz-se uma banda de pagode, um monte de serpentina e papel picado e invade as salas pra atrapalhar as aulas. O ponto alto se dá quando as mais animadinhas - sempre tem – puxam um criativo coro de Ah, eu sou formando... Sempre rola o hino dos times e coisinhas do gênero. Tão previsível.... Óbvio que não participei, Óbvio. Nunca entendi porque aquela idiotice. Sempre considerei mesquinhos os comentários de “Ai que m... esses formandos idiotas empatando a aula. Mas, ah, que no semestre que vem sou eu! (????????)

Mas, como não participei dessa coisa, como – depois de muita oração – convenci meus pais de que formatura é uma coisa inútil e colarei grau em gabinete, sabotando a minha própria campanha nos últimos dois anos para orador (aliás, releva sublinhar, como é bom mudar de idéia às vezes!), ontem, quando fui pro buteco com os formandos, alguém deu a entender que isso era um misto de rebeldia com ar de superioridade. Noutra roda, foi dito eu queria posar de intelectual e por isso superior.

É estranho ouvir tudo isso, mas acho que, paradoxalmente, tem um pouco de verdade! Concordo com o meu novo ídolo, C. Wright Mills de que o conhecimento tem função libertadora. Talvez seja mesmo porque eu li um pouco mais que a maioria, - pouco mesmo – que consigo me virar bem com minhas opiniões e na medida do possível, pensar o que quero, dizer o que penso e fazer o que quero. Aliás, em meu apoio Mills disse, mais ou menos, que acatar as opiniões dos outros é uma forma de conseguir o agradável sentimento de estar certo sem precisa pensar.

Isso nos leva, meio de canto, ao argumento de J. Bartlet quando vai responder em cadeia de TV perguntas de crianças sobre o espaço. Ele tem um cientista da NASA de cada lado, mas ao invés de repassar as perguntas, insiste em responder ele mesmo e de bate-pronto qual a temperatura, a idade, e qualquer coisa sobre Marte, Netuno, o mundo. A C.J., assistente de imprensa lhe diz Presidente, pára de se exibir, ninguém gosta de um sabichão e ele responde Claro, eu tenho um Prêmio Nobel no currículo, falo quatro idiomas, controlo metade do arsenal nuclear do mundo, mas Deus nos livre de as crianças descobrirem que seu presidente é esperto...

Em outras palavras, desde quando o normal é gritar apitar e atrapalhar as aulas dos outros? E porque mesmo, além das reminiscências da Sessão da Tarde eu tenho que vestir uma bata estranha, ter meu nome escrito em neon na parede e durante 45 segs., ouvir uma musiquinha que, em tese, é marcante ou resume minha vida, tudo isso para alfim, ser bacharel em direito. Vem cá tchê, não é o fato de eu passar lendo os últimos 6 anos, dormindo pouco e penando em ônibus que me torna bacharel?

Em outras palavras, e aqui vamos ao Gui Débord, o espetáculo, se tornou tão comum que se tornou necessário e - pra mim isso é muito engraçado - de tão necessário, furtar-se a ele é querer chamar atenção. Ser normal se tornou esnobismo...

Pra esses momento, gosto de Marx e tudo o que ele profetizou, tanto pelo que acertou por ser um gênio, quanto pelo que errou por confiar no ser humano “Tudo o que era sólido se evapora no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e por fim o homem é obrigado a encarar com serenidade suas verdadeiras condições de vida”. Que nada, a gente sempre dá um jeito...

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